quinta-feira, 31 de março de 2011

Remakes? Quem precisa deles?

REMAKES? QUEM PRECISA DELES? – por Vicente Bezerra

Prólogo: Andei sumido do blog na semana passada, por motivos técnicos (sem net) e médicos (gripe). Nesse meio tempo muita coisa aconteceu: ofensiva na Líbia, radioatividade no Japão, morte de José Alencar, bonde sem freio parando, Maria vencendo o BBB, Muricy saindo do Flunimed (esse tema coçou meus dedos para um post ácido), greve nos canteiros do PAC, confusão no show do Iron Maiden. Isso para exemplificar que o tema hoje, além de ameno, vem atrasado. Como o mesmo já estava na minha mente, resolvi trazê-lo, apesar também da ofensiva contra a Globo movida por Moacir Poconé (com a qual concordo, mas darei o braço a torcer neste post). Falarei justamente de um dos carros chefes da emissora: as novelas. Uma em particular: a recém terminada Ti ti ti.

Remakes sempre são vistos com desconfiança, sobretudo quando são de novelas. Além da natural preferência pelo que foi feito anteriormente – “ah, o original era muito melhor” – o histórico da Globo com seus remakes não era nada satisfatório, à exceção de “Sinhá Moça”, belíssima refilmagem. A coleção de remakes-desastres é grande, e a recriação de “Irmãos Coragem” é icônica nesse sentido. Ti ti ti quebrou essa rotina “global”.

No início da trama, muito se esperava e se questionava em como obter o sucesso de uma novela que foi grande êxito em sua época, com personagens marcantes e ainda vivos no imaginário popular, como os protagonistas Victor Valentim e Jacques Leclair. Superar, ou até mesmo igualar, as atuações de Luiz Gustavo como malandro e dublê de espanhol (que retornou nesta versão como Mário Fofoca, outro personagem lendário seu) e Reginaldo Faria, que fazia um Leclair mais afeminado enquanto estilista, mas um incorrigível mulherengo ao retornar a ser André Spina. Coube a Murilo Benício e Alexandre Borges o (grande) desafio, vencido com méritos. Um maior uso da caricatura nos personagens atiçou a veia cômica dos dois atores e foi destaque, nada devendo aos originais e para alguns, superando-os.

Outro fator do divertido folhetim emplacar como o original foi, além de apostar ainda mais na comédia, ter mesclado histórias e personagens de outras novelas e alterado o final de alguns núcleos. No original, por exemplo, Lutti e Valquíria (vividos por Cássio Gabus Mendes e Malu Mader na primeira versão) terminavam juntos. Os protagonistas terminavam velhinhos com suas bengalas em uma casa de repouso, brigando como sempre, e uma voz vinda do céu respondia dizendo “Nunca!” à enfermeira que perguntara quando acabaria a briga dos dois.

Mais um ponto positivo foi a inserção de muitos novos atores, somados a nome consagrados. Não é comum a Globo lançar tantos atores estreantes de uma só vez, como o fez em Ti ti ti., com destaque para as atrizes que fizeram a “lindinha intelectual” Mabi e a “gatinha adolescente” Valquíria, só para citar alguns. Atores consagrados, como o já citado Luiz Gustavo e Mauro Mendonça deram o aval de qualidade à novela, que foi honrada pelos mais novos. A presença de atores que fizeram a novela também em 1985 foi uma homenagem não só a eles, mas aos telespectadores da época. Foi impagável a cena em que Luiz Gustavo teve que se passar por Victor Valentim, para ser apresentado à Cecília (Regina Braga). Uma viagem no tempo. A “fera radical” Malu Mader, bela como sempre, foi uma das atrizes que estavam na primeira filmagem, e uma das várias citações a outras novelas e personagens. Outro ponto dentro: a abordagem da homossexualidade na novela foi suave, delicada, sem forçar nem incomodar o público “levantando bandeiras” ou sendo invasiva. Foi sutil.

Mas se tivesse que escolher apenas uma personagem para personificar a graça, a diversão e o destaque da novela, a escolhida seria Cláudia Raia com sua Jaqueline Maldonado. Cláudia Raia deu uma luz que a Jaqueline original (mais sofisticada e vivida pela saudosa e também belíssima Sandra Bréa) não possuía. Cláudia desfilou sua beleza exuberante em situações embaraçosas, engraçadas e esdrúxulas, roubando a cena da dupla de inimigos, atores principais. Foi uma vitória pessoal, para quem saiu de um longo casamento recentemente, um colírio para os olhos masculinos e uma diversão para todos que assistiram.

Foi um tiro certo da Globo este remake. Dizem que há outros em pauta e aqui ficam algumas sugestões. A primeira: não façam remake de Roque Santeiro. Essa novela é um clássico, e como clássico não deve ser mexido, vide o desastre de Irmãos Coragem. Outras sugestões: o horário das sete nos anos 80 (hoje as novelas vão mais tarde ao ar) sempre foi marcado por novelas leves e cômicas. Dentre muitas mereciam destaque e poderiam ser refilmadas as ótimas “Vereda Tropical”, “Cambalacho” e “Brega e Chique”. Fica a sugestão.

Epílogo: Foi uma deliciosa volta à infância para mim, que assistiu à trama quando lançada. Poderia me debruçar mais fazendo paralelos entre as duas versões. Mas, sei que os seguidores fiéis deste blog (pelo menos os registrados) não fazem o perfil de “noveleiros”, nem quero me tornar maçante. Foi importante para mim também para “fugir” um pouco dos problemas pessoais do momento, ficando entretido, bem como reunir eu e minha mãe mais tempo juntos em casa. E não é pra isso que uma novela serve? Até o próximo post, pessoal.

2 comentários:

  1. Texto muito interessante, não só pelos comentários à refilmagem de Ti ti ti, como também pelas sugestões. Discordo apenas da "sutileza" usada no tema homossexualismo. Nada contra, mas não foi isso que houve. O romance de Julinho e seu amado no início da novela mereceu diversos comentários da imprensa. Nunca se havia visto numa novela (ainda mais das 7) uma abordagem daquele tipo. E até mesmo no desfecho da trama, o mesmo Julinho recebe juras de amor do ex-marido de Jaqueline. Mais uma vez, nada contra. Porém, necessário frisar a inovação que a novela trouxe. Moacir Poconé

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  2. me encaixo no perfil dos não noveleiros, mas como sou dependente e não tenho uma tv propria. assisti alguns capitulos. a novela pelo jeito foi boa, mas seguindo da quase mesma opnião de Poconé. o remake veio com uma abordagem forte para uma novela das sete.

    será que esse tema de moda e homossexualismo comico mexeu com a cabeça da população?

    kkkk

    nada contra.

    Pedro Luís Fernandes

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