sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Não se fazem mais novelas como antigamente


NÃO SE FAZEM MAIS NOVELAS COMO ANTIGAMENTE – por Moacir Poconé

Parece coisa de saudosista, mas é a pura verdade: não se fazem mais novelas como antigamente. Digo isso não pela produção em si, pois é inegável o avanço em relação a aspectos técnicos. Falo do enredo e da criação de personagens que marcaram a televisão brasileira e as pessoas que puderam acompanhar esses campeões de audiência.

Um grande exemplo disso que falo é a macrossérie (ou mininovela) O Astro. Sucesso absoluto na década de 70, é considerada uma obra inovadora da mestre Janete Clair, aclamada como maior autora de telenovelas que já houve no Brasil. O típico final “quem matou?” tão copiado em outras diversas novelas surgiu em O Astro, quando o Brasil praticamente parou para saber quem era o assassino de Salomão Hayala. Vejam o que diz o site Memória Globo: “O assassinato do industrial Salomão Hayala (Dionísio Azevedo) mobilizou os telespectadores e transformou em bordão a pergunta: “Quem matou Salomão Hayala?”. Janete Clair só revelou a identidade do assassino no último capítulo da trama, deixando o país inteiro numa grande expectativa. Três dias depois de terminada a novela, Carlos Drummond de Andrade escrevia em sua coluna no Jornal do Brasil: “Agora que O Astro acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando”. Além disso, trazia como personagem principal uma figura que não se sabia se era vilão ou mocinho: Herculano Quintanilha. Inescrupuloso, ambicioso e ao mesmo tempo o galã da trama. Todos esses elementos se repetiram na refilmagem que termina hoje. Claro que a repercussão foi menor que a de quatro décadas atrás, mas os índices de audiência foram tão bons que se cogitou esticar a mininovela em mais vinte capítulos além dos sessenta programados (serão sessenta e quatro).

Recentemente, algo semelhante aconteceu com a novela das sete Ti Ti Ti. Para alguns, inclusive, com interpretações ainda melhores que as da primeira versão, o que apenas prova a importância do enredo para a qualidade da novela. Victor Valentim e Jacques Leclair serão lembrados como grandes protagonistas que foram. Algo que não acontece com as novelas “inéditas” da Globo. Os personagens têm alguma repercussão (afinal, trata-se da Globo) no momento em que a novela está sendo exibida. Mas ao terminar, pouco se comenta sobre eles. Caem no esquecimento de tal forma que até a própria novela fica meio esquecida. Para citar, algumas novelas dos anos 2000 que certamente poucos lembrarão: Beleza pura, A lua me disse, Como uma onda, Duas caras e outras mais que não deixaram marcas. Será esse o destino, provavelmente, de A vida da gente, Aquele beijo e Fina estampa, as atuais novelas da Rede Globo. Novelas sem inovação, com fórmulas repetidas e chavões mais do que batidos. Uma exceção surge de tempos em tempos (como foi o caso de Cordel encantado), mas é apenas uma exceção. A regra é a imitação, o déja vu. Cópia por cópia, melhor as refilmagens. A Globo já percebeu isso. Ano que vem, por exemplo, teremos Gabriela. Certamente, velhas (boas) histórias novas serão contadas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Abre o olho, Fidel


ABRE O OLHO, FIDEL – por Moacir Poconé

Foram chocantes as imagens que correram o mundo mostrando o fim do ditador líbio Muammar Kadhafi. Em meio a uma turba ensandencida, vemos o outrora todo poderoso comandante tal qual um boneco de pano, sendo levado para o abraço da morte. Em seguida, a foto que estampa essa postagem, do ditador já morto para o alívio de muitos líbios que sofreram ao longo de quarenta e dois anos com um regime de opressão e milhares de mortes. Alguns se lembraram da captura do ditador iraquiano Saddam Hussein, igualmente reduzido à situação de reles mortal, mas ao menos executado por forças do Estado. Já Kadhafi não teve sequer esse “privilégio”: foi morto ali mesmo, na rua, linchado e com tiros no abdome.

Neste ano, vimos populações de países africanos e do Oriente Médio se rebelando contra ditadores que há décadas estão no poder. A internet certamente foi elemento essencial para que isso acontecesse. Outro ponto que deve ser considerado é a vontade das pessoas de exprimirem seus anseios, independente do que possa lhes ocorrer. Já há ditadores de outros países como Iêmen e Síria sendo apontados como a “bola da vez”. É interessante que outros eternos donos do poder coloquem as barbas de molho, literalmente. Inevitável não se pensar nos irmãos Castro, Fidel e Raúl, que a ilha de Cuba desde 1960, com um regime igualmente opressor e sanguinário.


Governando Cuba desde a derrubada do ditador Fulgêncio Batista, Fidel Castro, se manteve no poder até o momento em que teve forças físicas para isso. Passou o poder para o irmão, Raúl em 2008. Dono de ideias consideradas mais “liberais”, o país tem passado por certas transformações do ponto de vista econômico (foi liberada este ano a compra e venda de carros na ilha), mas a liberdade de expressão ainda é artigo raríssimo na ilha caribenha. Ao longo de décadas, cubanos fugiram rumo aos Estados Unidos e nada se soube do eu ocorria na ilha. A pergunta agora é: até quando?


Diante do desfecho trágico imposto a Saddam Hussein e agora a Muammar Kadhafi, é bom que Fidel Castro e seu irmão comecem a pensar numa saída mais digna ou, pelo menos, que lhes permita sobreviver. Antes que seja tarde demais...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O que conduz


O QUE CONDUZ – por Moacir Poconé

É interessante a etimologia, ou seja, a ciência que estuda a origem das palavras. Hoje, por ocasião do dia de amanhã, pesquisava sobre a palavra “professor” e sua escrita nos mais diversos idiomas.

Comecemos pelo nosso português. Professor, em sua origem, é “aquele que professa”, ou seja, aquele que declara, que tem a convicção de algo ou ainda que ensina. Em inglês temos o vocábulo “teacher”, derivado do verbo “to teach” que é o verbo ensinar. Em espanhol, temos o termo “maestro” equivalente a mestre”, que nada mais é do que aquele que conduz”. Voltando ao termo professor, temos em francês “l’enseignat”, ou seja, “o que ensina”.

Percebam que invariavelmente temos a noção de ensinar, de conduzir ligada ao termo professor. Daí que podemos ampliar de maneira especial o conceito do que realmente vem a ser um professor. Temos muitos mais professores do que supomos. Ao longo de toda a vida, desde as primeiras lições para o amamentar, o ficar de pé, o andar e o falar. Crescemos aprendendo e recebendo novas lições. Dos pais professores passamos aos amigos professores, que nos ensinam o que fazer (embora muitas vezes nem eles mesmos saibam como!). E no trabalho, no uso de novos aparelhos eletrônicos, no aprendizado de nova atividade, passamos a vida recebendo lições das mais diversas.

O curioso é que também somos todos professores. Muitas vezes ensinamos coisas que sequer conhecíamos. Orientamos, conduzimos, instruímos aqueles que amamos e que confiam em nós. Essas lições do dia-a-dia não são planejadas ou pesquisadas de forma prévia. Aparecem em nossa frente e exigem uma resposta imediata, trazendo conseqüências muitas vezes inesperadas, pois a vida é assim mesmo: uma sucessão de fatos que nos conduzem pelo tempo.

Mas amanhã é o dia do professor. Aquele da sala de aula. O que dentre todas as pessoas que ensinam, que conduzem, recebe pela sociedade esse título. Isso mesmo. Mais do que uma profissão, pode-se dizer que “professor” se trata de uma verdadeira honraria. Não reconhecida por muitos, é verdade. Mas que nem precisa ser. O professor já traz no seu próprio nome a importância daquilo que faz.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Três coisinhas de valor...



TRÊS COISINHAS DE VALOR...* - por Vicente Bezerra

Ironias à parte, um dos personagens da semana não merece o complemento ao título: Steve Jobs. Mas para ele não sair ileso, deixo essa imagem do post para manter a verve humorística do texto (né Moacir?).

Justin Bieber já foi comparado aos Beatles, pelo seu “descubridor” (com essa grafia mesmo). Na verdade, o tal de Scooter Braun, disse que ele seria superior aos mesmos. Efeitos de drogas alucinógenas à parte, Bieber pousou no país para uma série de apresentações em playback. Não sou eu quem diz isso, mas reportagens com especialistas em sonorização deduraram o fedelho. E as púberes reclamam? De forma nenhuma. As demonstrações de histeria coletiva e desespero povoaram os noticiários, sempre com um depoimento de alguma garota de aparelhos a gritar, a ponto de parecer que iria babar na câmara. Baba, baby! Freud explica. Para nossa sorte, esses “fenômenos” catastróficos musicais não duram até a adolescência. Delas. Daqui a alguns poucos anos estarão todas com vergonha de ter gritado tanto pelo Biba. Que nos digam as fãs de Menudo, Back Street Boys e asseclas.

Michael, o Jackson, voltou ao noticiário essa semana. Está acontecendo o julgamento do médico Conrad Murray, para saber se o profoprofoforproforpropolol foi dado em dose exagerada, se é que foi o doutor mesmo que deu. Mas o interessante é que, a aura de santo dada a Michael quando da sua morte foi esquecida. Explico. Quando Jackson morreu, muitas maluquices, esquisitices e outras ices dele foram esquecidas ou justificadas sob a desculpa da infância problemática que o mesmo teve. Mais de um ano depois de sua morte, precisamente agora no julgamento, mais bizarrices do astro vem à tona. Descobriu-se que Wacko Jacko (apelido “carinhoso” dado por Mick Jagger) dormia com bonecas! Foi exibida também uma foto do mesmo morto, na maca hospitalar. E ainda foi divulgada uma gravação, facilmente encontrada no youtube, em que Michael, perceptivelmente grogue, diz coisas sem sentido, frases desconexas, numa pronúncia muitíssimo arrastada. Isso fora a descoberta de que o mesmo usava uma sonda para urinar enquanto dormia. Foi dito também que Jackson estava faltando muito aos ensaios e havia grande preocupação com sua saúde e com a possibilidade do seu insucesso na turnê. Havia expectativa de um vexame nas suas apresentações. Descobriu-se, ao contrário do que mostrou o documentário “This is it”, que seria o ocaso do decadente Michael Jackson.

Tudo o que poderia ser dito sobre Steve Jobs e sua genialidade já foi dito por aí. Mas o blog também quer deixar seu registro. O gênio criativo de Jobs transformou em poucas décadas a humanidade e sua forma de comunicar-se. As invenções, as idéias dele estão ao nosso redor e influenciam diretamente o nosso dia a dia. Sem sombra de dúvida, seu nome já está no panteão que une Da Vinci, Santos Dumont, Benjamim Fanklin, Guilhermo Marconi, Cristóvão Colombo, Thomas Edison, entre outros que não me veem agora. Mas o mundo pouco percebeu outro aspecto: sua doença. O câncer ainda é um grande desafio à raça humana. Digo isto imaginando que Steve, milionário, dono de uma das maiores empresas do globo, uma mente privilegiada, teve condições e recursos que julgo serem os máximos, para tratar-se com o mais avançado medicamento, no hospital mais tecnológico possível, com os médicos mais preparados. Mas perdeu a batalha para a doença. Morre prematuro o gênio, fica a Terra órfã de mais um filho que mexeu com ela. E que venham outros. Assim caminha a humanidade.

Para encerrar, uma frase que não sei o autor, e que vi essa semana. Achei muito interessante: “Ao fim de um jogo de xadrez, rei e peão sempre voltam para a mesma caixa...”

* - Aos leitores do Zimbabue, Nova Guiné, Suriname e outras plagas, há um ditado infantil por estas terras que diz: “três coisinhas de valor: papel, penico e cocô”. E viva ao dia das crianças!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O melhor filme de... Nicole Kidman


O MELHOR FILME DE... NICOLE KIDMAN – por Moacir Poconé

Atriz inicialmente conhecida por ser a mulher de Tom Cruise, com quem esteve casada por onze anos, Nicole Kidman mostrou em sua carreira ser muito mais que isso. A beleza dessa australiana certamente fez com que os críticos torcessem o nariz para ela, que precisou de mais de uma década de pequenos filmes e curtas aparições para enfim alcançar um papel de destaque em Hollywood. O ano da grande virada é 2001, quando estrela dois grandes filmes: o musical Moulin Rouge! e o suspense Os Outros. Recebe duas indicações de melhor atriz ao Globo de Ouro (ganha por Moulin Rouge!) e uma indicação ao Oscar (também pelo musical).

Já no ano seguinte, chega ao auge com a conquista do Oscar pelo filme As Horas, no qual interpreta a escritora Virginia Woolf. Para se ter uma ideia da dificuldade desse papel, Nicole, que é canhota, teve que aprender a escrever com a mão direita, uma vez que a escritora inglesa era destra. Tornou-se enfim uma atriz reconhecida por seu talento, interpretando desde mulheres sofridas a mocinhas apaixonadas. Destaque para as obras Cold Mountain, Reencarnação, Australia, Nine e Reencontrando a Felicidade, pelo qual recebeu mais uma indicação ao Oscar. É uma atriz ainda jovem, nascida em 1967, que certamente acrescentará novos sucessos e primorosas interpretações à sua já numerosa lista de sucessos.

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"A coisa mais importante que você pode aprender é amar e ser amado em troca."

"Espero que não se importe / que eu tenha colocado em palavras / como a vida é maravilhosa enquanto você está no mundo."

"...E não há montanha tão alta nem rio tão extenso, cante esta canção e eu estarei sempre lá ao seu lado. Tempestades podem surgir e estrelas colidirem, mas eu te amarei até o dia da minha morte..." (do filme Moulin Rouge!)

De um modo geral, as pessoas não gostam de musicais. Soa estranho quando os atores, sem mais nem menos, começam a cantarolar canções enquanto a ação fica suspensa, esperando que o número musical termine. Não se tem essa impressão ao se assistir o belíssimo filme Moulin Rouge! (que no Brasil recebeu o dispensável título Amor em Vermelho). Baseado em três óperas (La Boèheme, La Traviata e Orfeu e Eurídice), o filme retrata toda a beleza da dançarina Satine, interpretada com primor por Nicole Kidman. Ela enfeitiça os homens que freqüentam o famoso cabaré francês que dá nome ao filme com sua sensualidade e seus traços perfeitos. Uma verdadeira deusa dos palcos.

É fim do século XIX e o personagem principal é um poeta tristonho chamado Christian (interpretado por Ewan McGregor). Vindo do interior, conhece um grupo de atores e escritores, levando uma vida boêmia, regada a doses homéricas de absinto e noitadas intermináveis com prostitutas. Até o dia em que, ao visitar o famoso Moulin Rouge, assiste ao espetáculo de Satine. Passa então a disputar seu amor com o aristocrata Duke, que por sua condição financeira parece ser o preferido da dançarina. Começa a partir daí a luta do casal formado por Christian e Satine pelo amor eu parece impossível. Mas haverá ainda um inimigo muito maior (e mais perigoso) que o Duke.

Quanto aos aspectos técnicos, o filme nos enche os olhos. A fotografia do filme é fabulosa, repleta de cores vibrantes que parecem saltar da tela. Os figurinos e a reconstituição de época nos levam a Paris do final do século XIX. E, finalmente, a trilha sonora é excelente. Aquilo que mais causa temor a quem odeia musicais (as músicas em meio às cenas, como já dito) aparece integrado ao filme, como fazendo parte realmente do roteiro. Nada está ali por acaso e sim como parte da história de amor do casal protagonista. Além disso, são verdadeiros clássicos da música pop internacional, o que pode inicialmente causar estranheza pela época em que se passa o filme, mas que depois se mostra uma saborosa coletânea de canções amorosas. O maior destaque é Your Song, do hitmaker Elton John. Mas temos ainda Lady Marmelade, Children of the Revolution, Like a Virgin, The Show Must Go On, Pride, Material Girl, dentre outras. A cena chamada de Elephant Love Medley merece um bis ou uma visita no You Tube. Clássicos como Love is a Many Splendored Thing, All You Need is Love se misturam com os temas dos filmes Titanic e O guarda-costas. Heresia para alguns. Diversão para outros. Mas que vale a pena ser conferida. (O link para a cena com tradução em português é: http://www.videolog.tv/video.php?id=305231).

A interpretação de Nicole mereceu aplausos da crítica e do público. Seu empenho, inclusive, custou-lhe uma costela quebrada e o rompimento dos meniscos de um joelho. Esforços causados pelas cenas de dança. Mas que fizeram com que a atriz saísse de uma posição secundária para o estrelato. E conseguiu isso sem perder a beleza e a sensualidade que antes pareciam ser empecilhos para o êxito. Um grande , mesmo sendo um musical, como acham alguns. Para mim, o melhor filme de Nicole Kidman.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Habemus Rock, in Rio?

 
HABEMUS ROCK, IN RIO? – por Vicente Bezerra

A pergunta se impõe, assim como a polêmica: se é Rock in Rio, não deveria ter só rock? E campanhas na internet sugeriram mandar bandas de metal para balancear um pouco, no carnaval. Mas a resposta é mais simples do que parece. Não é verdadeiro esse argumento, porque desde o 1º Rock in Rio houve atrações que nada tinham de rock, a exemplo de Elba Ramalho cantando “Banho de cheiro”. Vale lembrar que o axé, como ritmo incluso no nosso pop nacional, não existia. Mas deixa pra lá. É mania de roqueiro implicar com tudo, contestar, reclamar (eu sou roqueiro!). Vamos fazer um balanço do que foi esse Rock in, enfim, no Rio.

ELTON JOHN: Por mais piegas que seu som pareça ser, Elton John tem uma carreira sólida e com hits emplacados pelo mundo inteiro. Dividiu a noite com Claudia Leitte, Katy Perry e Rihanna, sofrendo da falta de recepção por parte dos presentes, mas não se importou (até o final, quando recusou fazer bis pela plateia já estar pedindo por Rihanna) e fez uma apresentação memorável, de alguém que é reconhecido pelo seu trabalho há mais de quarenta anos. Foi um desfile de boas baladas e deu uma qualidade maior à noite. O ponto negativo fica pelo fato de Elton não cantar mais algumas de suas canções no tom original, vide “Goodbye yellow brick road”.

RED HOT CHILI PEPPERS: A grande atração do segundo dia do festival não poderia decepcionar, mas decepcionou. Em um repertório ainda recheado de hits do passado, a ausência do guitarrista John Frusciante foi sentida em alguns momentos, mas seu substituto, Josh Klinghoffer, se esforçou bastante. Ainda falta algo a ele, talvez entrosamento. Aguardemos. Os outros integrantes têm competência comprovada, desde a poderosa cozinha de Flea e Chad Smith até o vocalista Anthony Kiedis, que melhorou sua performance após conquistar a sobriedade alguns anos atrás. O Red Hot comprometeu um show certeiro e cheio de sucessos por conta dos grandes intervalos entre as músicas, esfriando boa parte da galera.

MOTÖRHEAD: A apresentação do trio Motörhead, liderado pelo vocalista e baixista Lemmy Kilmister, fez com que a grande maioria dos grupos anteriores parecessem meras bandinhas de garagem. A crueza e a força do som dos caras ao vivo é incrivelmente cativante. Clássicos foram destilados do início ao fim sem complicações e falhas perceptíveis. É o show de sempre, com as músicas de sempre e com a energia de sempre. Quem liga?

METALLICA: Potente e pesado, o Metallica fez um dos maiores shows desta edição - em termos de estrutura e repertório, com quase duas horas e meia de Heavy Metal digno de uma das três grandes bandas do estilo. Canções de toda a carreira da banda figuraram no repertório, que ainda teve Orion, pouco tocada ao vivo, em homenagem a Cliff Burton, cujo falecimento, num acidente de ônibus, teria seu 25° aniversário alguns dias depois do show.

LENNY KRAVITZ: Apesar da recepção morna do público, Lenny Kravitz fez um show muito bom. O repertório escolhido estava envolvente e recheado de boas músicas. O cantor e guitarrista, que estava acompanhado de uma banda excelente, impôs respeito e convenceu até mesmo quem estava lá por conta das outras atrações, como Shakira e Ivete Sangalo. Só pecou pela pouca interação com a plateia, que gerou a recepção morna anteriormente citada. O cara é muito marrento!

SYSTEM OF A DOWN: O SOAD é uma banda estranha por natureza. O que esperar de descendentes de armênios fazendo um som pesado? O que esperar de melodias árabes mesclada com peso e trechos lentos, dentro de uma mesma música? É estranho, mas funciona e é legal. Mas ao vivo, decepcionou um pouco. Talvez pelo fato de terem voltado a banda há pouco tempo.

GUNS N' ROSES: um texto que vi na net resume um pouco o que foi o Guns no RIR 2011: a banda não merece os fãs que tem. Os músicos são extremamente competentes, tecnicamente melhores que seus anteriores e que simplesmente amam o que fazem. O problema é o seu vocalista Axl, o único membro da formação original. Não possuindo a mesma voz de outrora (e nem sabe usá-la dentro das suas atuais limitações) derrapou em algumas músicas e demonstrou chateação em outros momentos do show. Não foi uma nulidade total, pois ainda conseguiu agitar bastante a galera nos clássicos mais pesados. Nas baladas, derrapou bastante.

CLÁUDIA LEITTE: A cantora de Axé estava realmente deslocada no festival, mas tinha chances de conquistar o público presente, pois esteve no cast do dia com mais atrações pop. Só que sua arrogância e prepotência impediu isto. Não é apenas uma questão de gosto musical: a mulher mandou mal ao achar que Rock In Rio é micareta e que todo mundo deveria ficar pulando durante o show, visto que gente de todo o país estava guardando lugar para performances posteriores. Ainda criticou as vaias, falando mal dos roqueiros, que nem estavam presentes na ocasião - o que estariam fazendo lá na mesma data dos shows de Rihanna e Katy Perry?

IVETE SANGALLO: Ao contrário da sua imitadora, fez o seu sempre animado show e com o seu carisma e simplicidade, mandou bem. Meio nervosa no início, mas na terceira música já passeava no Palco Mundo. Ainda deu uma canja no show de Shakira.

SHAKIRA: Ah, Shakira! Que sensualidade! A colombiana foi, sem dúvida, quem mais interagiu com o público, falando quase que o tempo todo em português. Mas como eu não poderia deixar de falar mal, seu ponto negativo foi assassinar o clássico “Nothing else matters” do Metallica, numa versão bisonha.

SNOW PATROL: Salvando-se uma ou outra música do quinteto escocês, faltaram travesseiros para o público durante a apresentação. O som alternativo do Snow Patrol é calmo e, em muitas horas, entediante. Acalmou quem estava agitado pela apresentação anterior do Capital Inicial e descansou aqueles que aguardavam o Red Hot. Não sei se isso é bom ou ruim, mas o show dos caras foi, sem dúvidas, um dos piores do festival, junto com o de Rihanna (que foi quem mais mereceu os impropérios destinados aos roqueiros por Cláudia Leitte com dois tês).

ANGRA E TARJA TURUNEN: Apesar da importância da banda para o metal brasileiro e da competência dos instrumentistas (alguns dos melhores do mundo em termos de Heavy Metal), a performance do Angra no Rock In Rio foi apática. A presença da vocalista pseudolírica Tarja Turunen, ex-Nightwish, equilibrou um pouco o jogo. Mas os problemas estavam visíveis e a interação entre os membros da banda era mínima. Além disso, Edu Falaschi cantou muito mal - e ainda atribuiu suas falhas ao som do festival. Acreditei por um momento que o show espantaria rumores de dissolução da atual formação, até que o próprio cantor anunciou que estará afastado por tempo indeterminado para recuperar a saúde de sua voz.

LEGIÃO URBANA + ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA: A banda acabou com o falecimento de Renato Russo mas os membros remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, insistem em viver de passado. Não vingaram desde o fim do conjunto e, no argumento de "homenagem", fizeram uma apresentação fraca e dispensável. Nem falo de algumas participações dispensáveis. A elogiar, apenas a performance de Tony Platão, um vocalista que merecia melhor sorte. O problema é que sempre o comparam à Cássia Eller...

KE$HA: O que é isso? Pouco talentosa e muito extravagante, a cantora Pop tenta apostar desde sempre no visual para conquistar repercussão. Mas os mais atentos à sua música percebem que a estadunidense não manda bem. Até mesmo ao vivo sua voz está recheada de Auto-Tune (afinador automático) e sua performance é fraca. Dispensável. Na próxima edição, duvido que alguém ainda saiba quem seja.

MARCELO D2: Não bastava ser chato, ainda teve que assassinar alguns hinos do Rock juntamente de Fernandinho Beat Box. D2 tenta misturar samba, rap e mpb mas só faz bizarrice. Sua apresentação no Rock In Rio não foi diferente: bizarra.

COLDPLAY: Atração principal de um dia de outras boas atrações como Maroon 5 e Maná, o Coldplay conseguiu jogar pra galera. Com a coleção de hits que possui, pra pouca idade da banda, a apresentação, embora meio morna, garantiu o empate fora de casa. O que é um bom resultado.

MANÁ: O que os mexicanos mais sabem fazer é rimar com “corazón”! E fizeram um show muito bom, sincero, desfilando seus hits já conhecidos em terras brazucas. É a maior banda a cantar em castelhano no mundo. Gosto de graça.

PARALAMAS DO SUCESSO + TITÃS: Gosto das bandas em questão, mas não esperava uma performance tão energética e emocionante. O show abriu o festival em termos de Palco Mundo e todos os envolvidos mandaram muito bem. Canções eternamente populares em território brasileiro como Epitáfio, Alagados, Polícia e Meu Erro agitaram o público, que compareceu em massa para as atrações pop que viriam em seguida. Representaram e muito bem sua geração e foram uma das melhores coisas nacionais no evento.

GLORIA: “Glória, glória aleluia! Queremos rock´n´roll”. Com esse coro “religioso” e com muitas vaias, o Glória foi recebido. A ovelha negra de todo o festival foi vaiada do início ao fim pelos metaleiros na plateia. Alguns se justificam dizendo que o Gloria é uma banda emo, enquanto outros alegam que o grupo tomou o espaço do Palco Mundo de gente supostamente melhor, como o Angra e o Sepultura. Os motivos dos caras terem ocupado o palco principal devem estar relacionados a jabá de gravadora e a banda deve amadurecer na área das vozes e das composições e o instrumental é razoável. Em tempo: o empresário deles é Rick Bonadio, jurado dos ídolos e ex-produtor dos Mamonas.

SLIPKNOT: Passada a febre comercial do chamado new-metal, o Slipknot ganhou maior respeito ao permanecerem unidos mesmo após o falecimento do baixista Paul Gray. A apresentação dos mascarados do nu-metal no Rock In Rio surpreende por ter cativado o público, até mesmo aqueles que não são chegados no som (como eu), com som pesado e presença de palco grandiosa. Talvez o melhor “espetáculo” do evento.

JOSS STONE: Um dos grandes, senão o maior, equívoco dos organizadores do festival foi deixar a loira (e que loira) fora do palco principal. Joss Stone conquistou o público com muito mais do que aparência agradável. A voz da mulher é poderosa e tem um grande alcance. Seu soul-pop é mais conhecido, e muito mais agradável, do que o pop disneylândico de Ke$ha. Pra quem esperava um show morno, como eu, Joss surpreendeu.

SKANK: O Skank nunca esteve entre minhas preferências no Rock nacional, apesar da fama. Nunca soaram como uma banda de Rock pra mim, na verdade. Mas os caras, definitivamente, fizeram o show da vida deles no Rock In Rio. Visivelmente satisfeito e empolgado, o frontman Samuel Rosa conduziu a plateia com maestria e a banda o seguiu com competência. Talvez nunca mais façam um show bom como o que fizeram naquele dia.

Bom, vamos esperar pelo próximo Rock in Rio em 2013. Esperamos maiores e melhores atrações, bem como coerência ao misturá-las. E que em 2013 não venham com essa ladainha de 1985 só tinha rock...(só não coloquem um dia gospel, Dio mio!).

sábado, 1 de outubro de 2011

O monstro virtual


O MONSTRO VIRTUAL – por Moacir Poconé

Anos atrás, a internet e a língua portuguesa foram elementos centrais de uma polêmica. “É preciso ser mais rápido, mais dinâmico”, diziam os internautas, ainda iniciantes na conversa virtual. “E as regras gramaticais? Onde ficam?” reclamavam os puristas da língua, indignados com o uso do código que gerou até um neologismo: o internetês.

Essa polêmica perdurou algum tempo, até que ambas as partes vissem que o tal internetês tinha vindo pra ficar. Poderia ser usado, sim, como um código entre os internautas ansiosos por comunicação, mas deveria respeitar as formalidades da língua em certas ocasiões. Mas quem determinaria que ocasiões são essas? Os internautas ou os puristas da língua? Nova discussão. E, o pior de tudo, o internetês escapou do mundo virtual para o mundo real, saindo das salas de bate-papo para as salas de aula. Começou a surgir como verdadeiros monstros em redações e provas escritas. Um verdadeiro desastre.

Agora, outro fenômeno acontece dentro do próprio internetês: a junção de palavras. Parece uma praga que assola não somente as mentes dos alunos, mas o próprio mundo da internet, pois não se encontra explicação para o uso desse “recurso” tão esdrúxulo. O uso de alguns termos está de tal forma disseminado que as pessoas estranham quando alguém lhes diz que tais palavras se escrevem separadamente. Três dessas formas chamam a atenção: o derrepente, o concerteza e o porisso.

A própria internet com o oráculo dos nossos dias, o Sr. Google, me serviu de base para comprovar o que digo, embora nem fosse preciso. Basta acessar as redes sociais como Facebook, Twitter e (se alguém ainda usa) o Orkut e lá estão as três palavras unidas, juntinhas, inclusive obedecendo as regras ortográficas, pois o R do derrepente aparece dobrado e o N do concerteza substitui o m original da palavra. Coisa de quem sabe escrever. Mas voltemos ao Google. Ao pesquisar o termo “derrepente”, assim com aspas, temos aproximadamente 3.520.000 ocorrências. O “concerteza” fica em segundo lugar, com 3.320.000. O “porisso” aparece bem menos, com 569.000, o que ainda não é pouco. Importante destacar que nessas consultas apenas na primeira página de cada apareciam questionamentos se tais termos se escreveriam juntos ou separados. As demais páginas (e não são poucas) trazem pessoas usando na forma agora consagrada. Tudo junto, unido. Uma tristeza para os olhos de quem lê.

Mas o internetês não se dá por satisfeito. Monstro voraz que é já descobriu outra forma de agir: fazendo o inverso. Agora, deu pra separar palavras que devem ser escritas juntas. Um verdadeiro assombro. Já invadem as escolas, extraídos do mundo virtual, muitos “por tanto” em vez de “portanto” , “em quanto” em vez de “enquanto”, dificultando ainda mais o já tão problemático ensino dessa nossa língua cada vez mais sofrida e rejeitada.

“Por tanto, devemos agir rapidamente antes q, derrepente, o internetês tome conta de td. Porisso, precisamos educar nossos jovens, em quanto ainda há tempo. Concerteza ainda há.”