sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Não se fazem mais novelas como antigamente


NÃO SE FAZEM MAIS NOVELAS COMO ANTIGAMENTE – por Moacir Poconé

Parece coisa de saudosista, mas é a pura verdade: não se fazem mais novelas como antigamente. Digo isso não pela produção em si, pois é inegável o avanço em relação a aspectos técnicos. Falo do enredo e da criação de personagens que marcaram a televisão brasileira e as pessoas que puderam acompanhar esses campeões de audiência.

Um grande exemplo disso que falo é a macrossérie (ou mininovela) O Astro. Sucesso absoluto na década de 70, é considerada uma obra inovadora da mestre Janete Clair, aclamada como maior autora de telenovelas que já houve no Brasil. O típico final “quem matou?” tão copiado em outras diversas novelas surgiu em O Astro, quando o Brasil praticamente parou para saber quem era o assassino de Salomão Hayala. Vejam o que diz o site Memória Globo: “O assassinato do industrial Salomão Hayala (Dionísio Azevedo) mobilizou os telespectadores e transformou em bordão a pergunta: “Quem matou Salomão Hayala?”. Janete Clair só revelou a identidade do assassino no último capítulo da trama, deixando o país inteiro numa grande expectativa. Três dias depois de terminada a novela, Carlos Drummond de Andrade escrevia em sua coluna no Jornal do Brasil: “Agora que O Astro acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando”. Além disso, trazia como personagem principal uma figura que não se sabia se era vilão ou mocinho: Herculano Quintanilha. Inescrupuloso, ambicioso e ao mesmo tempo o galã da trama. Todos esses elementos se repetiram na refilmagem que termina hoje. Claro que a repercussão foi menor que a de quatro décadas atrás, mas os índices de audiência foram tão bons que se cogitou esticar a mininovela em mais vinte capítulos além dos sessenta programados (serão sessenta e quatro).

Recentemente, algo semelhante aconteceu com a novela das sete Ti Ti Ti. Para alguns, inclusive, com interpretações ainda melhores que as da primeira versão, o que apenas prova a importância do enredo para a qualidade da novela. Victor Valentim e Jacques Leclair serão lembrados como grandes protagonistas que foram. Algo que não acontece com as novelas “inéditas” da Globo. Os personagens têm alguma repercussão (afinal, trata-se da Globo) no momento em que a novela está sendo exibida. Mas ao terminar, pouco se comenta sobre eles. Caem no esquecimento de tal forma que até a própria novela fica meio esquecida. Para citar, algumas novelas dos anos 2000 que certamente poucos lembrarão: Beleza pura, A lua me disse, Como uma onda, Duas caras e outras mais que não deixaram marcas. Será esse o destino, provavelmente, de A vida da gente, Aquele beijo e Fina estampa, as atuais novelas da Rede Globo. Novelas sem inovação, com fórmulas repetidas e chavões mais do que batidos. Uma exceção surge de tempos em tempos (como foi o caso de Cordel encantado), mas é apenas uma exceção. A regra é a imitação, o déja vu. Cópia por cópia, melhor as refilmagens. A Globo já percebeu isso. Ano que vem, por exemplo, teremos Gabriela. Certamente, velhas (boas) histórias novas serão contadas.

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