quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Habemus Rock, in Rio?

 
HABEMUS ROCK, IN RIO? – por Vicente Bezerra

A pergunta se impõe, assim como a polêmica: se é Rock in Rio, não deveria ter só rock? E campanhas na internet sugeriram mandar bandas de metal para balancear um pouco, no carnaval. Mas a resposta é mais simples do que parece. Não é verdadeiro esse argumento, porque desde o 1º Rock in Rio houve atrações que nada tinham de rock, a exemplo de Elba Ramalho cantando “Banho de cheiro”. Vale lembrar que o axé, como ritmo incluso no nosso pop nacional, não existia. Mas deixa pra lá. É mania de roqueiro implicar com tudo, contestar, reclamar (eu sou roqueiro!). Vamos fazer um balanço do que foi esse Rock in, enfim, no Rio.

ELTON JOHN: Por mais piegas que seu som pareça ser, Elton John tem uma carreira sólida e com hits emplacados pelo mundo inteiro. Dividiu a noite com Claudia Leitte, Katy Perry e Rihanna, sofrendo da falta de recepção por parte dos presentes, mas não se importou (até o final, quando recusou fazer bis pela plateia já estar pedindo por Rihanna) e fez uma apresentação memorável, de alguém que é reconhecido pelo seu trabalho há mais de quarenta anos. Foi um desfile de boas baladas e deu uma qualidade maior à noite. O ponto negativo fica pelo fato de Elton não cantar mais algumas de suas canções no tom original, vide “Goodbye yellow brick road”.

RED HOT CHILI PEPPERS: A grande atração do segundo dia do festival não poderia decepcionar, mas decepcionou. Em um repertório ainda recheado de hits do passado, a ausência do guitarrista John Frusciante foi sentida em alguns momentos, mas seu substituto, Josh Klinghoffer, se esforçou bastante. Ainda falta algo a ele, talvez entrosamento. Aguardemos. Os outros integrantes têm competência comprovada, desde a poderosa cozinha de Flea e Chad Smith até o vocalista Anthony Kiedis, que melhorou sua performance após conquistar a sobriedade alguns anos atrás. O Red Hot comprometeu um show certeiro e cheio de sucessos por conta dos grandes intervalos entre as músicas, esfriando boa parte da galera.

MOTÖRHEAD: A apresentação do trio Motörhead, liderado pelo vocalista e baixista Lemmy Kilmister, fez com que a grande maioria dos grupos anteriores parecessem meras bandinhas de garagem. A crueza e a força do som dos caras ao vivo é incrivelmente cativante. Clássicos foram destilados do início ao fim sem complicações e falhas perceptíveis. É o show de sempre, com as músicas de sempre e com a energia de sempre. Quem liga?

METALLICA: Potente e pesado, o Metallica fez um dos maiores shows desta edição - em termos de estrutura e repertório, com quase duas horas e meia de Heavy Metal digno de uma das três grandes bandas do estilo. Canções de toda a carreira da banda figuraram no repertório, que ainda teve Orion, pouco tocada ao vivo, em homenagem a Cliff Burton, cujo falecimento, num acidente de ônibus, teria seu 25° aniversário alguns dias depois do show.

LENNY KRAVITZ: Apesar da recepção morna do público, Lenny Kravitz fez um show muito bom. O repertório escolhido estava envolvente e recheado de boas músicas. O cantor e guitarrista, que estava acompanhado de uma banda excelente, impôs respeito e convenceu até mesmo quem estava lá por conta das outras atrações, como Shakira e Ivete Sangalo. Só pecou pela pouca interação com a plateia, que gerou a recepção morna anteriormente citada. O cara é muito marrento!

SYSTEM OF A DOWN: O SOAD é uma banda estranha por natureza. O que esperar de descendentes de armênios fazendo um som pesado? O que esperar de melodias árabes mesclada com peso e trechos lentos, dentro de uma mesma música? É estranho, mas funciona e é legal. Mas ao vivo, decepcionou um pouco. Talvez pelo fato de terem voltado a banda há pouco tempo.

GUNS N' ROSES: um texto que vi na net resume um pouco o que foi o Guns no RIR 2011: a banda não merece os fãs que tem. Os músicos são extremamente competentes, tecnicamente melhores que seus anteriores e que simplesmente amam o que fazem. O problema é o seu vocalista Axl, o único membro da formação original. Não possuindo a mesma voz de outrora (e nem sabe usá-la dentro das suas atuais limitações) derrapou em algumas músicas e demonstrou chateação em outros momentos do show. Não foi uma nulidade total, pois ainda conseguiu agitar bastante a galera nos clássicos mais pesados. Nas baladas, derrapou bastante.

CLÁUDIA LEITTE: A cantora de Axé estava realmente deslocada no festival, mas tinha chances de conquistar o público presente, pois esteve no cast do dia com mais atrações pop. Só que sua arrogância e prepotência impediu isto. Não é apenas uma questão de gosto musical: a mulher mandou mal ao achar que Rock In Rio é micareta e que todo mundo deveria ficar pulando durante o show, visto que gente de todo o país estava guardando lugar para performances posteriores. Ainda criticou as vaias, falando mal dos roqueiros, que nem estavam presentes na ocasião - o que estariam fazendo lá na mesma data dos shows de Rihanna e Katy Perry?

IVETE SANGALLO: Ao contrário da sua imitadora, fez o seu sempre animado show e com o seu carisma e simplicidade, mandou bem. Meio nervosa no início, mas na terceira música já passeava no Palco Mundo. Ainda deu uma canja no show de Shakira.

SHAKIRA: Ah, Shakira! Que sensualidade! A colombiana foi, sem dúvida, quem mais interagiu com o público, falando quase que o tempo todo em português. Mas como eu não poderia deixar de falar mal, seu ponto negativo foi assassinar o clássico “Nothing else matters” do Metallica, numa versão bisonha.

SNOW PATROL: Salvando-se uma ou outra música do quinteto escocês, faltaram travesseiros para o público durante a apresentação. O som alternativo do Snow Patrol é calmo e, em muitas horas, entediante. Acalmou quem estava agitado pela apresentação anterior do Capital Inicial e descansou aqueles que aguardavam o Red Hot. Não sei se isso é bom ou ruim, mas o show dos caras foi, sem dúvidas, um dos piores do festival, junto com o de Rihanna (que foi quem mais mereceu os impropérios destinados aos roqueiros por Cláudia Leitte com dois tês).

ANGRA E TARJA TURUNEN: Apesar da importância da banda para o metal brasileiro e da competência dos instrumentistas (alguns dos melhores do mundo em termos de Heavy Metal), a performance do Angra no Rock In Rio foi apática. A presença da vocalista pseudolírica Tarja Turunen, ex-Nightwish, equilibrou um pouco o jogo. Mas os problemas estavam visíveis e a interação entre os membros da banda era mínima. Além disso, Edu Falaschi cantou muito mal - e ainda atribuiu suas falhas ao som do festival. Acreditei por um momento que o show espantaria rumores de dissolução da atual formação, até que o próprio cantor anunciou que estará afastado por tempo indeterminado para recuperar a saúde de sua voz.

LEGIÃO URBANA + ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA: A banda acabou com o falecimento de Renato Russo mas os membros remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, insistem em viver de passado. Não vingaram desde o fim do conjunto e, no argumento de "homenagem", fizeram uma apresentação fraca e dispensável. Nem falo de algumas participações dispensáveis. A elogiar, apenas a performance de Tony Platão, um vocalista que merecia melhor sorte. O problema é que sempre o comparam à Cássia Eller...

KE$HA: O que é isso? Pouco talentosa e muito extravagante, a cantora Pop tenta apostar desde sempre no visual para conquistar repercussão. Mas os mais atentos à sua música percebem que a estadunidense não manda bem. Até mesmo ao vivo sua voz está recheada de Auto-Tune (afinador automático) e sua performance é fraca. Dispensável. Na próxima edição, duvido que alguém ainda saiba quem seja.

MARCELO D2: Não bastava ser chato, ainda teve que assassinar alguns hinos do Rock juntamente de Fernandinho Beat Box. D2 tenta misturar samba, rap e mpb mas só faz bizarrice. Sua apresentação no Rock In Rio não foi diferente: bizarra.

COLDPLAY: Atração principal de um dia de outras boas atrações como Maroon 5 e Maná, o Coldplay conseguiu jogar pra galera. Com a coleção de hits que possui, pra pouca idade da banda, a apresentação, embora meio morna, garantiu o empate fora de casa. O que é um bom resultado.

MANÁ: O que os mexicanos mais sabem fazer é rimar com “corazón”! E fizeram um show muito bom, sincero, desfilando seus hits já conhecidos em terras brazucas. É a maior banda a cantar em castelhano no mundo. Gosto de graça.

PARALAMAS DO SUCESSO + TITÃS: Gosto das bandas em questão, mas não esperava uma performance tão energética e emocionante. O show abriu o festival em termos de Palco Mundo e todos os envolvidos mandaram muito bem. Canções eternamente populares em território brasileiro como Epitáfio, Alagados, Polícia e Meu Erro agitaram o público, que compareceu em massa para as atrações pop que viriam em seguida. Representaram e muito bem sua geração e foram uma das melhores coisas nacionais no evento.

GLORIA: “Glória, glória aleluia! Queremos rock´n´roll”. Com esse coro “religioso” e com muitas vaias, o Glória foi recebido. A ovelha negra de todo o festival foi vaiada do início ao fim pelos metaleiros na plateia. Alguns se justificam dizendo que o Gloria é uma banda emo, enquanto outros alegam que o grupo tomou o espaço do Palco Mundo de gente supostamente melhor, como o Angra e o Sepultura. Os motivos dos caras terem ocupado o palco principal devem estar relacionados a jabá de gravadora e a banda deve amadurecer na área das vozes e das composições e o instrumental é razoável. Em tempo: o empresário deles é Rick Bonadio, jurado dos ídolos e ex-produtor dos Mamonas.

SLIPKNOT: Passada a febre comercial do chamado new-metal, o Slipknot ganhou maior respeito ao permanecerem unidos mesmo após o falecimento do baixista Paul Gray. A apresentação dos mascarados do nu-metal no Rock In Rio surpreende por ter cativado o público, até mesmo aqueles que não são chegados no som (como eu), com som pesado e presença de palco grandiosa. Talvez o melhor “espetáculo” do evento.

JOSS STONE: Um dos grandes, senão o maior, equívoco dos organizadores do festival foi deixar a loira (e que loira) fora do palco principal. Joss Stone conquistou o público com muito mais do que aparência agradável. A voz da mulher é poderosa e tem um grande alcance. Seu soul-pop é mais conhecido, e muito mais agradável, do que o pop disneylândico de Ke$ha. Pra quem esperava um show morno, como eu, Joss surpreendeu.

SKANK: O Skank nunca esteve entre minhas preferências no Rock nacional, apesar da fama. Nunca soaram como uma banda de Rock pra mim, na verdade. Mas os caras, definitivamente, fizeram o show da vida deles no Rock In Rio. Visivelmente satisfeito e empolgado, o frontman Samuel Rosa conduziu a plateia com maestria e a banda o seguiu com competência. Talvez nunca mais façam um show bom como o que fizeram naquele dia.

Bom, vamos esperar pelo próximo Rock in Rio em 2013. Esperamos maiores e melhores atrações, bem como coerência ao misturá-las. E que em 2013 não venham com essa ladainha de 1985 só tinha rock...(só não coloquem um dia gospel, Dio mio!).

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