sexta-feira, 9 de julho de 2010

O retrato de Dorian Gray


O RETRATO DE DORIAN GRAY – por Moacir Poconé

Há um excelente livro de um escritor irlandês chamado Oscar Wilde em que ele trata da beleza e dos infortúnios advindos da passagem do tempo. O livro chama-se O retrato de Dorian Gray.

Nesta obra, o personagem central que dá nome ao título é um rapaz muito belo, que chama a atenção de um pintor. Impressionado com a beleza do moço, o artista consegue convencê-lo a servir de modelo e faz uma pintura, um retrato em que imortalizará a beleza. Ao terminar e ver a perfeição estética, o pintor comenta que quem deveria envelhecer era o retrato e não o rapaz. Este deveria permanecer sempre belo e jovem, sem sofrer com as cicatrizes dadas pelo tempo. Na obra, isso acaba acontecendo: o jovem permanece com sua beleza intacta, mesmo com o passar de vários anos, enquanto o retrato acaba se modificando, como que absorvendo as mudanças que deveriam ocorrer com o rapaz. Óbvio que se trata de uma ficção. Infelizmente, na vida real não há a possibilidade disso acontecer. O tempo é implacável.

Lembrei-me dessa obra ao visitar um amigo nesses tempos de Copa do Mundo. Seu pai se encontrava muito doente, devido a uma dessas doenças que surgem ao passar dos anos. Meu amigo comentou sobre a preocupação da família e das restrições por que o pai passava. Enquanto ele conversava, o pai chegou de uma consulta médica e pude perceber a veracidade de suas palavras. O senhor estava com a saúde muito frágil, mal conseguia caminhar e falava com certa dificuldade. Conversamos um pouco enquanto assistíamos ao jogo. Na sala, um pouco acima da televisão, havia três retratos do senhor ainda jovem. Os três retratos mostravam um jovem belo, vigoroso, com trajes militares e uma esperança no olhar. Para o jovem, o tempo nada significava. Sua aparência representava a feliz ingenuidade que todos nós temos de achar que somos invencíveis e que nada pode nos destruir. Nem mesmo o tempo. Porém, somente os retratos permaneceram intactos. O jovem já não tem o vigor de outrora. Sofreu com o passar do tempo. Não existe no mundo real um Dorian Gray, que permaneça imutável ao longo de décadas. O tempo traz, junto com a experiência, marcas que vão se acumulando sobre os nossos corpos.

Só nos cabe, meros mortais, ter a consciência de que, infelizmente, é isso que acontece e que não haverá de ser de outra forma. Carpe diem, diziam os antigos. Aproveitem o dia. O tempo é fugaz e nossa vida não dura mais que um breve piscar de olhos. Os mesmos olhos que desafiam o futuro quando somos jovens devem ter a sabedoria de observar o presente e aproveitá-lo da melhor forma.

2 comentários:

  1. Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a . Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos aos, estes ainda reservam prazeres.

    Séneca

    ResponderExcluir
  2. Meus amigos leitores, meu comentário sobre o texto retro assevera algumas frases talvez melancólicas: o tempo... ah, o tempo que passa e que não volta mais. o tempo que nos traz boas recordações também é o mesmo que nos leva à tristeza. Por que tão cruél és tu tempo? O tempo passa e ele (tempo) não nos responde. esse silêncio insuportável sentido por aqueles que ficam leva consigo uma parte de nós. Estou aqui falando da pior dor, do pior sofrimento que somente o próprio tempo cura: a perda de alguém amado, principlamente quando este alguém dedicou a própria vida por nós. Falo aqui em nome de um amigo que quer chorar mas não pode. Em nome de um amigo que se finge de forte e, de tão forte, não consegue esconder em sua aparência a dor, o sofrimento, a emoção. Tocar aquele ritual da marinha em sua despedida é triste, muito triste, sem comentários... E o tempo? Onde ele estava nesse momento tão sofrido? Estava junto de nós, acompanhando cada passo e escrevendo na história a figura de um homem intocável, ético, social e, acima de tudo, zeloso com seu maior tesouro, qual seja, sua família. O tempo que nos faz rir em certas circunstânceas, que nos fazer chorar e sentir dor, também é responsável em aplicar o remédio para o alívio. E sabe, meus amigos, qual é esse remédio do qual estou falando? Ele, o próprio tempo, o centro das atenções. É impressionante como a passagem do tempo faz com que as pessoas deixem a dor de lado e passem a sentir saudades e recordar daquilo que nos fez rir, nos fez feliz, nos fez amar. E não adianta nem lutar, por mais que queira, o TEMPO SEMPRE SERÁ O CENTRO DAS ATENÇÕES.


    PS: esse texto é uma forma escrita de dividir a dor com um grande amigo que passou por memontos difíceis esses dias. Mas lembre-se meu caro, o tempo cura o proprio sofrimento que gerou! Um forte abraço. Fagner Dantas.

    ResponderExcluir