quarta-feira, 14 de julho de 2010

O crime compensa


O CRIME COMPENSA – por Vicente Bezerra

O crime compensa. Caso Eliza Samudio, Casal Richthofen, Mércia Nakashima, Isabela Nardoni, só pra citar alguns casos recentes e marcantes. O ditado não se refere aos autores das atrocidades citadas, muito menos para as vítimas, claro. O crime compensa, e muito, para a mídia.

O Brasil tem acompanhado nos últimos dez anos o surgimento de programas policiais na televisão em profusão. Isso começou timidamente na década de 70, com o “homem do sapato branco”, personagem do jornalista Jacinto Figueira Júnior. Na década seguinte, Hélio Costa (jornalista e mais recentemente ex-ministro) capitaneava seu programa, nos moldes do “sapato branco”. Esses programas geralmente narravam histórias e casos chocantes, muitas vezes com cenas de reconstituição.

Veio a década de 90 e o SBT lançou o famigerado “Aqui Agora”. O indefectível Gil Gomes era o repórter principal e o que se tornou mais famoso, por espezinhar e esmiuçar a desgraça alheia. A Globo, para não copiar a então rival, criou o seu programa policial, o “Linha Direta”, repetindo a fórmula de Jacinto e Hélio Costa. O “padrão Globo” de jornalismo, tentava glamourizar o crime, fazendo-o parecer novela.

Mas o pior estava por vir. Os anos 2000 trouxeram programas policiais nos moldes americanos. Como toda cópia tende a ser pior que o original, os nossos saíram como uma pálida “xerox” borrada. Liderados por José Luiz Datena e Marcelo Resende, o sensacionalismo barato tomou conta da TV, sem pedir licença, em pleno horário vespertino, com muitas crianças vendo, inclusive. O desrespeito por quem assiste é muito grande, mas não maior do que o imposto às vítimas. Em diversas ocasiões se vê a invasão àquelas pessoas, na sua intimidade, dignidade e dor. Perguntas são feitas como se fossem dedos a tocar diretamente em feridas. E no auge da agonia, sempre dá tempo de interromper para anunciar o “cogumelo do sol” ou a “tecpix”.

O crime está banalizado. A repercussão criada é exagerada. Óbvio que crimes como os citados chocam e devem ser noticiados. Porém, preencher toda a programação de um canal com um caso específico, repetindo cenas, entrevistas, depoimentos, é de uma pobreza de espírito infeliz. Esses programas querem nos fazer acreditar que o crime está batendo na nossa porta, para nos jogar da janela como a uma Isabela, ou dar nossos pedaços aos cães, como a uma Eliza. Não é assim. Crimes atrozes sempre existiram, como não nos deixa mentir “Chico Picadinho” e “o bandido da Luz Vermelha”. Mas a exploração desses casos por estes “jornalistas” e seus programas é também hedionda. Não é Sônia Abrão?

Um comentário:

  1. Ultimamente para mim está sendo difícil ligar um aparelho de TV, pois todos os canais estão aprofundando-se em uma única notícia. Isso é terrível! O pior é que a maior parte da população brasileira fortalece a mídia através de suas abordagens constantes referente a essas notícias. Infelizmente, o brasileiro ama comentar de forma contínua certas atrocidades.

    Val

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