sexta-feira, 30 de julho de 2010

Um Índio no poder


UM ÍNDIO NO PODER - por Moacir Poconé

O povo brasileiro tem uma espécie de ditado que afirma que “numa eleição, não se vota em vice”. Essa máxima pretende menosprezar a figura do candidato a vice em cargos eletivos, seja em âmbito municipal, estadual ou federal. Trata da figura do vice como algo decorativo, que está ali apenas por uma exigência da Justiça Eleitoral. Mas não é bem assim.

Trataremos da questão no aspecto federal. Inicialmente, é preciso dizer que até a eleição presidencial de 1960 votava-se no vice. Isso sem qualquer necessidade de vínculo com o candidato a presidente. Dessa forma, a título de exemplo, foram eleitos Floriano Peixoto (que não era vice do presidente eleito Deodoro da Fonseca) e João Goulart (que não era vice de Jânio Quadros). Percebam a confusão, pois se uma das funções do vice é a de torcer contra o titular do cargo, imagine nas situações acima quando havia rivalidade entre os eleitos.

Outro dado curioso (e que derruba definitivamente o ditado de que se falou no início desse texto) é que no período republicano, mesmo contando com os presidentes militares, houve vinte e oito mandatos presidenciais. Desse total, sete vice-presidentes assumiram o cargo por renúncia ou morte do titular. Isso corresponde a 25% de presidentes eleitos sendo substituídos por políticos que deveriam, em tese, ficar relegados a segundo plano.

Eis a lista:
Floriano Peixoto – assumiu devido à renúncia de Deodoro da Fonseca
Nilo Peçanha – assumiu após a morte de Afonso Pena
Delfim Moreira – substituiu Rodrigues Alves, morto, antes de sua segunda posse
Café Filho – assume o poder após o suicídio de Getúlio Vargas
João Goulart – chega à presidência após a renúncia de Jânio Quadros
José Sarney – assume o poder após a morte de Tancredo Neves, que nem toma posse
Itamar Franco – assume o cargo após a renúncia de Collor

Percebe-se que todo cuidado é pouco na escolha do candidato a presidente, pois pode ser que seu vice efetivamente governe.

Nas eleições desse ano chamou atenção a escolha do vice do candidato José Serra. Chama-se Antonio Pedro Índio da Costa, do DEM. Trata-se de um jovem deputado federal de apenas 39 anos e sem muita relevância (até então) no cenário político nacional. Como única referência, trata-se do relator do projeto de iniciativa popular apelidado de “Ficha Limpa”, que impede a candidatura de políticos condenados por tribunais às eleições. Sua escolha foi algo surpreendente. Entre tantos “caciques” do PSDB e do DEM não se esperava que um “índio” fosse alçado à condição de integrante da chapa de oposição ao governo Lula.

Entretanto, mais do que surpreendentes foram suas declarações há algumas semanas de que o PT é aliado dos narcotraficantes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que há décadas aterroriza aquele país da América do Sul, seqüestrando e matando pessoas, principalmente políticos. O preocupante é que não há qualquer prova ou indício de que isso seja verdade. Sua atenção foi somente a de criar polêmica e de atingir sua maior rival, Dilma Roussef e o próprio Presidente da República. Acreditava-se que tal artifício não tivesse mais espaço na política de hoje. Ao menos em nível federal, quando se espera que os debates e ideias prevaleçam sobre atos levianos como os protagonizados pelo deputado Índio.

Assim, caso eleito, é preciso que rezemos pela saúde de Serra e para que nada de ruim lhe aconteça...

2 comentários:

  1. Mais um belo texto, Mestre! Infeliz a escolha do vice de Serra e infelizes as declarações do mesmo. Não cabe mais no nosso país declarações popularescas como essa. Me fez lembrar a confusão que Collor fez envolvendo a ex-mulher de Lula em 89. Esse vice de Serra vai ser determinante no resultado da eleição, pra infelicidade de Serra, que é um bom candidato, mais com erros de estratégia fadará à derrota. Abração Moacir!
    Vicente

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  2. Pois é, Poconé. A política do PSDB virou um programa de 'índio'.

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