sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Coronel Nascimento, o Indiana Jones brasileiro


CORONEL NASCIMENTO, O INDIANA JONES BRASILEIRO – por Moacir Poconé

Numa eleição anos atrás realizada com cinéfilos dos Estados Unidos, Indiana Jones foi eleito o maior herói do cinema em todos os tempos. Forte, corajoso, inteligente, seus filmes de ação representam o espírito de aventura tão cultuado pelos estadunidenses. Agora no Brasil, surge nosso maior herói: o Coronel Nascimento, de Tropa de Elite.

Sem dúvida, o Coronel (antes Capitão) Nascimento é o maior herói que o cinema nacional já produziu em todos os tempos. Que semelhanças teria com o herói eleito nos Estados Unidos? Coragem e força, certamente, são atributos em comum. Vêem-se essas características principalmente no primeiro filme Tropa de Elite em que a violência combinada com um humor corrosivo, quase negro, transborda pela tela. No segundo filme, lançado essa semana (e já batendo recordes de bilheteria), nosso herói mantém o estilo destemido, mesmo que de forma mais contida. Mas as semelhanças param por aí. Nosso herói é muito mais humano e por isso apresenta problemas comuns a todos nós. Se Indiana luta com nazistas em busca de artefatos sagrados e perdidos, o Coronel Nascimento enfrenta as milícias na comunidade de Rio das Rochas. E o pior: a corrupção está bem próxima a ele, já que Nascimento deixa o BOPE e vai trabalhar na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, um verdadeiro covil de policiais e políticos desonestos. Sua luta agora não é contra os traficantes, mas contra todo o sistema, como ele mesmo diz. É grande o risco inclusive de ser corrompido, tragado pelas facilidades da ilegalidade.

Mas nosso herói é incorruptível. Nada parece o abalar. Apenas parece. Se ele é uma fortaleza no que diz respeito ao campo profissional, no aspecto pessoal sua vida está em farrapos. Nascimento está mais velho, ou melhor, desgastado não só pelos anos de trabalho, mas por seus problemas pessoais. Divorciado, vê sua mulher casar com a antítese de tudo aquilo que representa: um defensor dos direitos humanos. Inclusive seu filho se identifica mais com seu rival do que com ele próprio. Surge um dilema: sabe agir com os traficantes, com as milícias, mas tem dificuldades quando se dirige ao próprio filho. Assim, nada resta a nosso herói senão desafogar suas mágoas atacando de forma violenta criminosos que surgem em seu caminho, estejam fardados ou não. Nisso, ele é implacável. Nenhum sentimento de culpa, nada de vacilos. Simplesmente os ataca e ponto final. As conseqüências para ele nada significam. Numa cena emblemática, surra o secretário de segurança pública, após descobrir o seu envolvimento nas ações criminosas. Palmas são ouvidas na platéia, como que lavando a alma do povo brasileiro que queria ver cenas como essa na vida real e não apenas na ficção.

Esse é o Coronel Nascimento, o maior herói já visto no cinema nacional. Para nós, brasileiros, até maior que Indiana Jones, o herói estadunidense. Por ser mais real. Por ser mais humano. Por representar um basta num cenário visto como perdido para muitos, mas não para ele.

2 comentários:

  1. Tropa de elite inova no cinema nacional. Cria a franquia no cinema brasileiro, junto em "se eu fosse você". Apresenta uma forma diferente de contar a estória, em primeira pessoa, sendo o personagem principal agente narrador. Apresenta, mais uma vez, a dura realidade do nosso país. E cria um herói. Um herói que o povo anseia que apareça na realidade, embora saiba ser impossível. Excelente filme esse dois, no que se refere À reflexão. Parabéns Moacir, por mais um bom texto.
    Vicente

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  2. Gostei muito desse filme, principalmente por que não é só a violência das ações que imperam, mas também a das negociatas, interesses políticos e financeiros, que vão desde o passador de drogas nas favelas do RJ até o Congresso Nacional. Essa ponte é fantástica. Além de mostrar o que há por trás, e muita gente não percebe, dos apresentadores sensacionalistas de nossa TV.

    Wanderley

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